Wednesday, March 21, 2012

Roteiro de Qualquer Filme do Michael Bay

Ao que tudo indica, em breve veremos uma nova adaptação cinematográfica de "As Tartarugas Ninjas", dirigida por Michael Bay, o mesmo sujeito que avacalhou com "Transformers".

Pelo que conheço do trabalho de diretor supramencionado, eis como será o roteiro do filme:

De todos os países que existem na Terra, alienígenas/monstros/super-vilão irão concentrar sua ofensiva no território americano, enquanto as tartarugas ninjas, ajudadas pelo exercito norte-americano, irão salvar o planeta. Todas as outras nações, obviamente, assistirão inertes a possível aniquilação da raça humana.

Tudo isso, é claro, entremeado por alguma subtrama romântica barata, entre um anti-herói e uma mocinha em trajes sumários, ambos jovens, caucasianos e super sarados.

Também haverá algum negro/mexicano/chinês engraçadinho que só faz merda, mas cujas piadas servirão para aliviar a tensão entre cenas explosivas e cenas de amor platônico entre o casalzinho apaixonado, cujos eventos em curso impedem de ser plenamente consumado.

No fim, os estados unidos salvarão o mundo, o anti-herói tirará alguma lição valiosa e se redimirá de seu passado pecador, e todos viverão felizes para sempre.

Amém.

O resultado final será uma bosta, mas todos os débeis metais que habitam este mundo irão achá-lo o máximo. "Os efeitos especiais são demais", eles dirão.

Friday, March 16, 2012

Direitos Humanos

Desde que recebi parcela do poder estatal, para dele usufruir da melhor forma que me convir, uma das situações mais insólitas em que já me vi foi a seguinte.

De posse de um mandado de internação compulsória, cujo objeto era levar um sujeito na marra para uma clínica de reabilitação, a fim de que ele fosse tratado de seu vício em cocaína e barbitúricos, dirige-me até o apartamento do cidadão. Sob minha batuta, 4 policiais militares. Apresentei-me e o drogadito franqueou suas portas. Li os termos do mandado. Perguntei se ele iria me acompanhar voluntariamente ou se seria necessário conduzi-lo a força. O maluco não se opôs, apenas pediu para tomar um banho. Acontecimentos.

Agora já estamos do lado de fora do prédio, em frente à viatura da polícia. Contudo, com 4 policiais e eu, já havia 5 negos dentro da caminhonete. Logo, o drogadito teria que ir na "caixa", na parte de trás da viatura, onde são transportados presos e maloqueiros.

O sujeito, que até então vinha cooperando maravilhosamente, ao ser informado que teria que viajar dentro da "caixa", abriu o maior berreiro, com um pomposo discuso sobre a dignidade da pessoa humana. Vale ressaltar que o cara não era um favelado ou marginal qualquer, mas sim um ocupante de prestigioso cargo na união federal.

Me vi diante de um dilema, ou bato o pé e peço pros policias algemarem o cara e colocá-lo à força na "caixa", correndo, assim, o risco do cheirador meter na minha espinha posteriormente; ou deixo de cumprir a parada, sob o argumento de que não teriam sido fornecidos meios condignos de transportá-lo. Em qualquer umas das hipóteses, eu estaria fudido.

Matutei por alguns instantes. "Como vim parar aqui? Que merda de emprego", pensei. Enquanto isso, o cara ameaçava que eu seria responsabilizado acaso desse continuidade aquele ato, e o policiais esperavam uma decisão. Foi ai que me veio uma luz.

- Eu vou na "caixa" então!

Sentenciei triunfante. Claro, dai o cara iria no banco de trás e não tinha grilo. É claro que eu teria que passar a próxima hora dentro de um pequenino espaço, por onde diversos marginais sebosos já teriam passado, mas ai eu conseguiria cumprir a parada numa nice! E o cara também não podia ficar mais choramingando.

Após cerca de uma hora de viajem, chegamos ao nosso destino. Deixamos o drogadito na clínica e regressamos.

Talvez eu não tenha relatado o suficientemente bem, para que o inexistente leitor tenha compreendido perfeitamente a dimensão dos acontecimentos que se assucederam naquela fatídica noite de sexta-feira, mas aquele foi um dos episódios mais bizarros da minha pobre vida. Palavra.

Au au au

Sempre que algum mandado vem acompanhado de peças processuais, costumo dar um bizu, pra ver se não acho alguma nova pérola.

Eis que na data de hoje, recebi um mandado de citação. Segundo consta na denúncia do Ministério Público, após receber voz de prisão por desacato a um Policial Militar, o vagabundo "chamou os militares de 'cachorros do governo', imitando latidos durante o percurso feito pela viatura".

Deve ter sido uma cena lamentável. Além de chamar os PMs de cães, o sujeito ainda imitou o ladrar canino para ilustrar suas ofensas.

Wednesday, March 14, 2012

É da net?

Pergunta que mais ouço quando chego na casa de alguém: "tu é da NET/SKY?"

As vezes não me sinto tão culpado por ganhar a vida arruinando a vida das pessoas.

Tuesday, March 13, 2012

Nada > Oficial de Justiça

Era uma tarde quente de verão. Após tentar, sem sucesso, achar um vagabundo no final de uma rua só acessível a pé, eu vinha voltando, esbaforido. Eu sentia o suor delicadamente escorrendo pelo meu saco. Minha mente estava em casa, passando de nível no MW3, mas meu estupor não durou muito, pois logo sou interrompido pela seguinte interrogação:

- Se tá fazendo algum tipo de levantamento, moço?

A pergunta vinha de uma velha que fechava o portão de sua casa e por quem eu acabará de passar despercebido. Muito contrariado, eis que detesto outras pessoas, o seguinte dialogo se desenrolou:

- Não. Trabalho no fórum. Tava procurando um sujeito nessa rua.

- Ah, tu trabalha no fórum é? Eu tô indo pra lá agora. É que tem um inquilino meu que não quer me pagar. Que que tu faz no fórum?

- Sou oficial de justiça.

- Tu tem um cartãozinho com o teu nome e telefone?

- Não, por quê?

- Ah, é que eu queria ter o telefone de um oficial de justiça, acaso eu precise de um.

"Não, não tenho. Lamento. Boa sorte" é o que eu respondi, mas deveria ter ressaltado que não existe uma única situação adversa na vida em que a presença de um oficial de justiça faria qualquer diferença. Não somos da polícia, não detemos parcela do poder estatal, não temos porte de arma e ninguém dá a mínima pra gente. De outra banda, existe a possibilidade de que a velha senhora estivesse dando em cima de mim e queria meu telefone para que mantivéssemos uma relação intima posteriormente. Não seria de se duvidar.

CF: art. 5º, LVII

Hoje, citei um sujeito que foi denunciado pelo Ministério Público por ter batido uma punheta no ônibus.

Sunday, March 4, 2012

Simon "Sick Boy" Williamson

Como já comentado aqui esses tempos, ser pego com um baseado, ou pequena quantidade de qualquer droga ilícita, desde que para consumo próprio, não é crime. No entanto, o maconheiro não escapará do moedor de carnê assim tão fácil.

Algumas semanas depois, o pobre diabo receberá um oficial de justiça na sua porta lhe intimando para comparecer em uma audiência de transação penal.

Então, há alguns dias, fui cumprir um, entre os diversos mandados dessa natureza que recebo todas os dias.

Cheguei no endereço indicado. Pra variar, não havia campainha. Bati palmas. Nenhuma resposta. Voltei a bater palmas. Nada. Como não havia cadeado no portão, me certifiquei de que não havia nenhum cachorro na propriedade. Entrei no terreno e me dirigi até a porta. Bati. Aparece uma bela mocinha. Lamentavelmente, era a intimanda.

Iniciei, tal qual um robozinho, meu discursinho padrão. Talvez pelos efeitos nocivos que a maconha causa no cérebro, a mocinha não entendeu picas.

- Tu precisa ir nessa audiência, por conta das acusações que o Ministério Público fez contra ti.
- Mas que acusação, moço? Eu nunca fiz nada de errado.
- Bem, consta aqui que tu foi pega pela polícia com um baseado de maconha.
- Ah, mas eu nem tava fumando, eu só tava junto.

"Só lamento. Quem manda ficar andando com maconheiro, porra", era o que eu deveria ter dito, mas como sou um cagalhão, só soltei um "Bem, então procure um advogado."

Saturday, March 3, 2012

Contravenções penais

Há uns dias, numa típica tarde de calor senegalês na ilha da agonia, após subir a pé uma pequenina, porém ingreme, ruela sob o sol inclemente, localizei a residência indicada no mandado. Não havia campainha. Bati algumas palmas. Nada. Tornei a bater palmas, desta vez com mais enfase. Uma velinha aparece no portão. Pergunto seu nome.

Como era a pessoa que deveria ser citada, mesmo esbaforido pelo hercúleo esforço despendido para chegar ali, iniciei, tal qual um autômato, meu monólogo padrão. Contudo, antes de terminado meu discursinho, sou interrompido pela minha interlocutora:

- Tu já usou aparelho?

Atônito, não só pela interrupção, mas com o total descabimento daquela pergunta, respondo secamente que "sim". No entanto, curioso, emendei minha resposta com um "por quê?"

- Ah, é que teus dentes são perfeitos.

Que tipo de comentário é esse quando se é confrontado com a notícia de que você está sendo processado criminalmente, provavelmente uma das piores notícias que se pode receber em vida? Desejava a velha senhora se safar me galanteando? Tantas vezes já arruinei a vida de belas e jovens mulheres e nenhuma delas se ofereceu para mim, como se esperaria em tramas de filmes pornográficos, que muito diferem da vida real.

Enfim, apesar de termos iniciado nosso encontro com elogios, após tomar ciência da acusação que sob si pendia, a velha senhora, desagradada, passou a excomungar o ordenamento legal e o judiciário. Disse para ela que não adiantava ficar brava comigo, pois eu era apenas o mensageiro. Pedi para ela assinar a minha via do mandado, a fim de que eu pudesse dar o fora dali. Ela se recusou e, ignorando o fato de que eu sou apenas um merda, que nada decide em questões judiciais como aquela, continuou a criticar a aplicação das leis no Brasil.

"Vai tomar no teu cu então, sua velha louca do caralho. Guarde suas chorumelas para juízes, promotores, deputados federais, e outro deuses", era o que tive vontade de dizer, mas, como sou um cagalhão, só me despedi com um "Ok, tá bom então. Passar bem."