Friday, March 28, 2014

Tutorial ilustrado passo-a-passo: como colocar a camisinha

Vivia eu minha vidinha medíocre, onde nada de muito significativo, digno de ser aqui compartilhado, ocorria.

Quando, assim de repente, numa tarde nublada e fresca, interrompendo uma sequência de dias insuportavelmente quentes, a ponto de extenuar as glândula sudoríparas dos meus bagos, pois, como aqui já relatado, costumo suar muito no saco em dias quentes, um acontecimento memorável, na solidão cerrada em que sou obrigado a viver, se materializou.

Fui dar cumprimento a um mandado de prisão pelo não pagamento de pensão alimentícia, de um sujeito que devia para seus filhos infantes, nada mais nada menos, que oito mil reais. Sim, oito conto.

Dirigi-me até sua residência acompanhado de uma viatura da polícia militar. A casa do sujeito, obviamente não possuía campainha. Bati, então, diversas vezes minha esquálidas mãozinhas para chamá-lo. O sujeito apareceu. Dei-lhe ciência da ordem judicial, e de que ele seria conduzido para o presídio, onde sujeitos de origem afro-kid-bengalesca fariam farra em seu "fiofó" até que ele quitasse seu débito.

Ainda meio incrédulo, o sujeito indagou-me se haveria alguma alternativa, algo que ele pudesse fazer para evitar que seu traseiro fosse vilipendiado impiedosamente nos porões do medieval sistema penitenciário catarinense. Ao que respondi, na condição de "Longa manus" da Justiça: "não".

O sujeito respirou fundo, e se entregou aos policiais, não sem antes mandar um recado para sua ex-esposa "essa filha-da-puta quer foder comigo".

Moral da estória: use-camisinha, amiguinho.

Tuesday, November 12, 2013

O caso da "pepeca de ouro"

Quebro o silêncio que vem assombrando este blog, pois achei digo de compartilhamento as palavras mais a frente transcritas, que ouvi de uma das vidas que arruinei na última semana.

Em um dia ordinário, sob os flamejantes raios solares, fui citar um sujeito numa ação de divórcio; além de lhe dar ciência quanto a ação impetrada por sua ex-esposa, a ordem judicial também determinava sua intimação para que, a partir daquele instante, depositasse mensalmente, até o fim dos tempos, uma polposa pensão.

Meio relutante e incrédulo, o cara faz o seguinte comentário antes de, a muito contragosto, lançar sua nota de ciente na minha via do mandado: "pô, essa mulher quer carro, apartamento e agora pensão; ela deve tá achando que tem uma pepeca de ouro".

Anui silenciosamente com um aceno de cabeça. Franzi o cenho e vazei dali, em busca da próxima vítima do judiciário.

Thursday, July 25, 2013

Big Brother Brasil 2014

Naquela fria manhã de inverno meu couro cabeludo precocemente nu era castigado pela gélida brisa que soprava do atlântico.

Como a residência indicada no mandado não possuía uma campainha, bati minhas esquálidas palmas e berrei "ô, de casa", me sentido o maior paspalhão do pedaço.

Aparece um sujeito na janela; me identifico como "longa manus" do Poder Judiciário; ele vem até o portão.

De posse de um mandado de citação em uma ação de execução de alimentos, iniciei meu monologo padrão, que passo a sintetizar: sua ex-mulher havia ingressado com aquela ação, cujo objeto era cobrar dezesseis mil reais de pensão alimentícia em atraso, e mais, se ele não pagasse a grana em três dias, ou apresentasse alguma justificativa muito boa (tipo: não paguei pois fui abduzido por alienígenas oriundos dos confins do universo), seria decretada sua prisão.

Nesse tipo de situação, terminado o meu discursinho, normalmente o sujeito tenta se justificar pra mim, contando toda a história de sua vida até culminar naquele fatídico momento, na esperança de que eu tenha qualquer poder na condução do processo. Eu não tenho, e sempre acabo tendo que explicar que sou um reles "carteiro do fórum", que apenas cumpro ordens judiciais e nem conheço os processos, bla bla bla.

Mas não o sujeito dessa história, pois, uma vez cientificado dos termos do processo, ele se resumiu a decretar "eu vou matar essa filha da puta".

Nos despedimos. Eu havia arruinado mais uma vida.

Monday, June 10, 2013

Compra coletiva de ingressos de cinema

Até algum tempo, eu considerava ir ao cinema com minha amasia Kathieky um programa prazeroso. Sentar-me diante da telona e, por cerca de uma hora e meia, esquecer-me de como a vida é injusta e sem sentido. Mesmo aqueles filmes escrotos, em que os Estados Unidos salvam o mundo mais uma vez, enquanto todas as outras nações assistem inertes à possível aniquilação da raça humana, conseguiam ser legaizinhos.

Não mais. As salas de cinema foram invadidas por debiloides deglutidores de pipoca. Criatura estúpidas para quem o que esta sendo projetado na tela não faz a menor diferença. Aliens atacam a "América"? Uma criatura monstruosa fugiu do laboratório e aterroriza o povo "americano"? A cidade de Nova York está sob ataque terrorista? Os debiloides não se importam; o que eles querem mesmo é conversar ruidosamente, bater com suas patas imundas no banco da frente, mexer na porra do celular a cada 5 segundos, enfim, qualquer atitude que denote o seu total desprezo pelos demais seres humanos. "Eu sou mais eu, o mundo gira ao meu redor", se orgulham os debiloides.

Nos dias de hoje, é simplesmente impossível ir ao cinema, com o intuito de assistir ao filme, e não ficar completamente irritado. Acaso eu tivesse porte de arma, todas as minhas idas ao cinema terminariam em derramamento de sangue. Nego bateu com o pé na minha poltrona? BANG! Nego resolveu checar o facebook no meio do filme? BANG! Nego acha que conversar sobre temas variados durante a sessão é considerada uma conduta socialmente aceita? BANG!

Infelizmente, devido à minha personalidade psicótica e transtornada, foi-me negado o porte de uma arma de fogo. Quem sabe um dia...

Defensoria Dativa

Não tenho nenhuma história engraçada pra contar, meus dias cumprindo "mandaTos" judiciais seguem insossos.

O único acontecimento digno de nota, que relato apenas para quebrar a sequência de vários dias sem atividades neste malfadado blog, foi esses tempos, quando cheguei na casa dum sujeito para citá-lo numa ação de alimentos.

Na condição de bastião do judiciário - o longa manus da justiça, que se fode por ai ouvindo desaforo sob o sol escaldante, enquanto os deuses estão confortavelmente sentadinhos em seus gabinetes aveludados e climatizados - introduzi-me ao pobre sujeito. Disse-lhe que, a partir daquele instante, ele deveria pagar 30% de seus rendimentos líquidos (inclusive férias e 13o) a título de alimentos para seu filho infante; caso contrário, ele seria preso e levado para uma das unidades do sistema prisional catarinense, onde uma horda de detentos faria uma festa em sua cavidade rectal.

Em resposta aos termos do mandado que acabará de tomar ciência, o pobre sujeito disse: "mas que filha duma puta, essa mulher; eu pago tudo pra esse guri ai; mas ela vai ver só, vô pêga um devogado e vô mête no cu dela".

Sob o peso daquelas sábias palavras, despedi-me sem dizer nada e parti para o próximo endereço onde eu iria arruinar mais uma vida.

Thursday, May 2, 2013

Master / Slave

Eu, pessoalmente, detesto ter que circular pelo Olimpo. Aquele monte de gente estúpida, para quem o Sodalício nada mais é que um evento social, onde se desfila com camisas polo da Tommy Hilfiger ou caras excessivamente maquiadas. Apesar de perto do céu, aquele lugar é uma visão do inferno para as pessoas sensatas e humildes.

No entanto, possuo um(a) informante lá dentro, que chamaremos de Garganta Profunda, o (a) qual sabe de tudo que se passa naquele antro.

Dia desses, conversávamos sobre os últimos julgados do Tribunal de Haia, quando Garganta Profunda me confidenciou uma história escabrosa.

Era uma vez, em um pedacinho de terra perdido no mar, no topo do Monte Olimpo, um gabinete forrado de veludo e com uma vista panorâmica para o Oceano Atlântico. Em uma mesa de mogno, decorada com um bezerro de ouro e uma cruz invertida, um DEUSembargador papeava com uma alta autoridade da administração estadual, uma tiazinha.

Abre parênteses

Pra quem não sabe, DEUSEmbargadores são bons demais para se servirem do próprio café. Toda vez que Sua Majestade Real está afim de uma cafeinazinha, Ele toca uma pequena sineta e uma cena muito constrangedora se desenrola: um pobre sujeito entra na sala equilibrando bules e xícaras sobre uma bandeja de metal e serve o café conforme Suas preferências pessoais.

Fecha parênteses

Enfim, tocou-se a sineta, e o pobre sujeito entrou no gabinete. Duas pessoas para servir, Sua Alteza Sereníssima e a tiazinha. O pobre rapaz do café serviu primeiro a velhinha e depois o Ilustríssimo.

Passado algum tempo de conversa, a tiazinha foi embora. Sua Alteza Imperial, então, tocou sua gloriosa sinetinha. Entra em cena, novamente, o pobre rapaz equilibrista de café. Mas Ele não queria café. Desenrolou-se o seguinte diálogo:

"Que diabos tu pensa que esta fazendo?!", questionou o DEUSembargador, para quem o rapaz do café era apenas um relés serviçal, indigno de educação e cortesia.
"Como assim, seu dotô?!", respondeu temeroso o pobre sujeito.
"Viestes aqui no meu gabinete e servistes minha visita primeiro?!", vociferou a autoridade.
"Ai, seu dotô, é que me pareceu de bom tom servir primeiro a tiazinha, que além de visita, era mulher e velha.", tentou argumentar o indefeso rapaz.
"Não me interessa, da próxima vez, se nesta sala estiver eu e deus, você vai me servir primeiro!", sentenciou.

Garganta Profunda dá fé do relato e eu não duvido. No que concerne a relação de servilismo, a única diferença entre o Sodalício e o período feudal, é que o servo que quebrar seu juramento de fidelidade aos nobres, ao invés de ser açoitado em praça pública, perderá seu emprego e não conseguirá mais pagar as parcelas do seu carro tunado, nem pagar a encomenda de camisas polo da Tommy Hilfiger que aquele seu primo que foi pra Miami vai trazer. Ou seja, cairá na mais completa desgraça e descrédito.

Tuesday, April 30, 2013

Beats by Dr Bilontra

Ultimamente, nas poucas oportunidades em que fui obrigado a sair de casa e circular incógnito pelas ruas da cidade, não pude deixar de notar uma alarmante nova tendência entre a galera desmiolada: usar gigantescos fones multicoloridos na cabeça.

Sério, qual o sentido? Os "antigos" e pequeninos fones de ouvido já não são suficientes? Será que a cabeça de algumas pessoas é tão inútil que só serve mesmo para virar estandarte de alguma empresa ?

"Ai, Capitão, você é mesmo uma pessoa rabugenta e amargurada, usar esse tipo de adereço é a última moda no além mar", questionaria o leitor revoltadinho; ao que eu responderia "e se enfiar uma cenoura no rabo fosse moda, você assim o faria?!"; ao que alguns leitores deste blog replicariam "óbvio".

Mas a sexualidade duvidosa das pessoas que perdem tempo lendo isto aqui não é o ponto; o ponto é que os boizinhos do capitalismo, que compõem 99,99% da população brasileira, aderem sem titubear a qualquer modismo por mais estúpido que seja.

Há um ano, se alguém saísse na rua com um fone desses na cabeça, com certeza seria motivo de olhares desconfiados e deboche. Desde então tudo mudou, e os mesmos que antes debochavam agora desfilam orgulhosos com seu novo brinquedinho.